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Educação ambiental precisa se moldar ao século XXI

31/03/2010 15:28

O NEPA (Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental) tem por objetivo realizar pesquisas sobre educação e meio ambiente, surgiu em 2003, pela iniciativa de Roosevelt S. Fernandes, que coordena o instituto sem fins lucrativos. Para Fernandes a questão da educação ambiental está no centro de vários levantamentos. “Não há como definir um programa de educação ambiental, sem que antes esteja sustentado em uma pesquisa prévia de avaliação da percepção ambiental do segmento ao qual o será oferecido”, avalia o especialista. Em entrevista exclusiva ao Observatório Eco, ele explica que o NEPA se dedica ao estudo da percepção ambiental e social em segmentos formadores de opinião.

 

O trabalho de pesquisas que coordena mostra, por exemplo, que “os estudantes querem interação com as comunidades do seu entorno, deixando de lado a tese generalizada, de que os assuntos ligados ao meio ambiente deveriam estar distribuídos por todas as disciplinas”.

 

Fernandes defende que “não há mais condições de avaliar um programa de educação ambiental apenas com indicadores, fartamente explicitados em relatórios, do tipo, número de cartilhas produzidas, número de alunos envolvidos, número de professores envolvidos, fotos de oferta de lanches aos participantes”.

 

Na avaliação dele, “os recursos alocados a tais programas são significativos e pouco se leva em conta o efeito induzido pelo investimento feito”. A educação ambiental que é aplicada deve ser avaliada por sua eficácia, “precisamos verificar se realmente estamos conseguindo alterar positivamente o nível de conscientização ambiental dos segmentos envolvidos em tais programas”.

 

Analisando e coordenando as pesquisas do núcleo Roosevelt S. Fernandes percebe a necessidade de uma profunda reflexão sobre a educação ambiental que estruturamos no século XX de modo a adequá-la para as exigências do século XXI. Veja a entrevista concedida ao Observatório Eco com exclusividade. 

 

Observatório Eco: Dentro das pesquisas que o NEPA (Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental) realiza sobre a percepção ambiental, para as pessoas entrevistadas, o aquecimento global é mito ou realidade?

 

Roosevelt S. Fernandes: Nossa pesquisa feita na Região Metropolitana da Grande Vitória (ES) ainda está em andamento. Entretanto, há pesquisas desenvolvidas por outros grupos que evidenciam que esta preocupação é elevada.

 

Temos certo receio em assumir, na totalidade, estes resultados, pois nossa premissa é que na sociedade, a maioria tem acesso a relatórios de pesquisas científicas, mas apenas ao que lê através da mídia, portanto, ainda não tem o real conhecimento do que é aquecimento global. Quando muito já ouviu falar no termo e acaba afirmando que ele é importante já que tanta gente está discutindo o assunto.

 

Nossa pesquisa, antes de ir à caça de respostas como esta, visa, também, saber se quem está respondendo sabe o que exatamente é o termo. Queremos diferenciar o “já ouvi o termo” de “sei o que ele se refere”.

 

O NEPA se dedica ao estudo da percepção ambiental e social em segmentos formadores de opinião e, deste modo, possuem um razoável conhecimento do encaminhamento de pesquisas.

 

Observatório Eco: O que significa a expressão “lacunas do conhecimento ambiental”? Quais as mais graves lacunas? Dê exemplos, por favor.

 

Roosevelt S. Fernandes: Como estudamos a percepção ambiental em segmentos formadores de opinião, é de se esperar que certos grupos tenham um nível esperado, mínimo, de conhecimento. Quando este conhecimento mínimo não é identificado usamos o termo “lacuna de conhecimento”, ou seja, são pontos que exigem ações de intervenção para resolver ou minimizar a “lacuna”.

 

Pesquisa que realizamos em 2006, com os delegados de todos os Estados presentes na II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, revela que os estudantes querem interação com as comunidades do seu entorno, deixando de lado a tese generalizada, de que os assuntos ligados ao meio ambiente deveriam estar distribuídos por todas as disciplinas.

 

Evidências como essa, mesmo que contrarie as premissas pedagógicas vigentes, não podem ser ignoradas, sob pena de estarmos impondo condições ao invés de ajustar condições as realidades do sistema.

 

Observatório Eco: De que forma você avalia o resultado dos programas de Educação Ambiental no Brasil, eles cumprem o papel de conscientização?

 

Roosevelt S. Fernandes: Estamos concluindo outro trabalho onde vamos procurar dar uma resposta quantificada a esta pergunta. Mas, desde já, alguns pontos são evidentes.

 

Por exemplo, não há como definir um programa de educação ambiental sem que este seja antes sustentado em uma pesquisa prévia de avaliação da percepção ambiental do segmento ao qual o programa será oferecido. Inclusive, órgãos de controle ambiental, um exemplo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos em Espírito Santo, já regulamentou este procedimento através de instrução normativa.

 

Não há mais condições de avaliar um programa de educação ambiental apenas com indicadores, fartamente explicitados em relatórios, como: número de cartilhas produzidas, número de alunos envolvidos, número de professores envolvidos, fotos de oferta de lanches aos participantes.  

 

Há que se ter em todos os programas aprovados um sistema de avaliação da eficácia do mesmo.

 

Os recursos alocados a tais programas são significativos e pouco se leva em conta o efeito induzido pelo investimento feito. Ou seja, precisamos verificar se realmente estamos conseguindo alterar positivamente o nível de conscientização ambiental dos segmentos envolvidos em tais programas.

 

Sugerimos a necessidade de uma profunda reflexão sobre a educação ambiental que estruturamos no século XX de modo a adequá-la para as exigências do século XXI. Não se trata de sair procurando as falhas, mas sim de propor ações ainda melhores para aquelas até então adotadas.

 

 

 

Observatório Eco: De que forma quantificar os resultados da educação ambiental?

 

Roosevelt S. Fernandes: Os pedagogos deveriam ter esta resposta de forma prática; o ótimo é inimigo do bom, como é citado por muitos. Muitas das vezes, pelo rigor da análise, e a aventada complexidade deste tipo de levantamento, deixa-se de se fazer o bom no desejo de assegurar o ótimo.

 

É o caso da proposta do NEPA de criação do “ENADE AMBIENTAL”. Um sistema específico para o meio ambiente, envolvendo “ingressantes” e “concluintes” de instituições de ensino superior. No momento já temos resultados em cursos de administração e Engenharias.

 

Observatório Eco: O que falta no Brasil para que a consciência ecológica vire realidade dentro de todas as camadas sociais?

 

Roosevelt S. Fernandes: Realmente a decisão política de que há interesse em conscientizar a sociedade e vê-la efetivamente participando das decisões que envolvem os temas ligados ao Meio Ambiente.

 

Por exemplo, pesquisas do NEPA mostram que a sociedade, isto é, a a maioria não sabe o que é “Audiência Pública” e, quando sabem, admitem nunca terem participado de uma delas. Fica a pergunta: quem está participando delas?

 

Isso também é válido para o termo “Agendas Ambientais”. Fica outra pergunta: quem participou da definição de tais agendas?

 

Observatório Eco: Dentro da sua especialização Engenharia Ambiental, quais os absurdos que você mais encontra quando o tema discutido é direito ambiental?

 

Roosevelt S. Fernandes: Vejo as empresas de grande porte bastante envolvidas no atendimento de seus problemas ambientais. Estou a 30 anos na área e posso afirmar isso com muita convicção.

 

Certamente tendo em conta que não há sempre a solução de zerar as emissões, elas devem ser compatibilizadas, primeiramente ao atendimento dos padrões ambientais legais e, depois, progressivamente, seguindo o princípio da melhoria contínua, evoluir aquém dos padrões.

 

Por outro lado, em se tratando de micro e pequenas empresas, este problema tem que ser avaliado sobre outros aspectos, a troca da postura de aplicar multas, por outra que permita estrutura econômica e técnica para que tal segmento possa chegar a solução de seus problemas ambientais.

 

Observatório Eco: Se você tivesse 100 milhões de dólares em quais projetos ambientais investiria essa quantia?

 

Roosevelt S. Fernandes: Com toda a sinceridade, investiria no homem. Deixaria para os outros investirem em equipamentos antipoluentes mais eficazes, sistemas de Auditoria Ambiental, Certificações, aprimoramento dos processos de licenciamento ambiental, entre outros.

 

Entenda este homem como aqueles que estão no poder, os da oposição, os investidores, os banqueiros, os executivos da empresas, professores de todos os níveis, e, também, o homem comum da sociedade. O planeta é um só, independentemente da categoria de homem que você esteja neste momento.

 

Observatório Eco: Conte-nos, por favor, um pouco da sua carreira.

 

Roosevelt S. Fernandes: Fiz primeiro o curso técnico de Química Industrial, pois sempre gostei muito de Química. Depois Engenharia Química feito na Universidade Federal do Paraná. Em seguida, fiz o mestrado em Engenharia de Produção, no Rio de Janeiro, onde desenvolvi uma das duas primeiras teses de mestrado, no Brasil, em tema ligado diretamente ao meio ambiente.

 

Na época, minha tese foi desenvolvida na então Cia. Vale do Rio Doce sobre a avaliação das perdas (perdas eólicas) de minério de ferro de baixa granulometria em transporte em vagões abertos (Estrada de Ferro Vitória Minas/ES-MG) e a estocagem em pilhas (Terminal Marítimo de Tubarão/ES). Na oportunidade desenvolvemos 3 processos de contenção eólica – dextrina, glucose e leite de cal – que foram patenteados.

 

Na Vale, ainda, fiz o curso de Engenharia Industrial nos Estados Unidos e, depois, tendo um sonho realizado, fiz Engenharia Ambiental no Japão por um convênio. Fiquei lá até chegar ao cargo de Gerente Geral de Engenharia Ambiental, quando fui para um novo desafio, na empresa Aracruz Celulose, hoje, Fíbria, na qualidade de Gerente de Relações com Partes Interessadas, onde me aposentei. Atualmente, coordeno o curso de Engenharia de Produção Civil da UNIVIX (Vitória), além de me dedicar desde 2003 ao NEPA (Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental).

Roseli Ribeiro

Fonte: https://www.observatorioeco.com.br/index.php/educacao-ambiental-precisa-se-moldar-ao-seculo-xxi/

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